Hospital São Lucas, 4ºandar. Subi o elevador um pouco triste por saber que minha maizinha querida ainda estaria presa a tubos e amarras mecânicas aos cuidados daquele hospital.
Ao abrir a porta e sair um pouco aéria, visualizei meus dois irmãos Rossana e Thiago que já aguardavam no recinto a chamada para a visita , rotina dos últimos 27 dias.
Thiago foi o primeiro a entrar. Do lado de fora um clima de muita tristeza por parte dos outros pacientes que também se encontravam em estado delicado. Muitos familiares choravam. Rossana ajudando, dando copos com água e distribuindo lenços de papel... fiquei imaginando a dor de todos aqueles, e buscando dentro de mim forças como sentindo o que se aproximaria.
Vi a porta se abrir e Thiago sair, com os olhos marejados e creio que o coração apertado, pois senti suas vibrações ao passar por mim. Entrei e fui direto a ela. Maizinha estava ali, entubada. Havia uma lágrima caindo de um dos olhos , fechados. Limpei a lágrima dela e disse 'oi maizinha'. Alisei muito seus cabelos. Ela me olhando com olhos curiosos e ao mesmo tempo rendidos por não conseguir falar balbuciou algo que entendi que perguntava por 'Andrezza'. Disse que estava tudo bem. Que ela já estava ali a quase um mês. Disse que Aninha estava quase em momento de parto. Que seria segunda feira. E que ela estava bem. ( ciente que essa informação a tranquilizaria). Ela me mostrou com os olhos a televisão, que passava naquele momento uma receita com Edu. ( seu passa tempo favorito). Tossiu, agoniou-se. Fez gesto um tanto de desespero. Abriu a boca toda como quem tentava gritar. Fiquei condoída ao ver aquela cena. O coração apertou. Pedi a ela que tentasse ficar tranquila. Ela mexeu os pés como se pedisse que eu os tocasse. Fui até a cabeçeira da cama, levantei um pouco o lençol e segurei em seus pés. Massageando-os com carinho. Ela se acalmou. Fechou os olhos. Nesse momento meu corpo se rendeu a uma prece. Elevei meu pensamento a Deus. Senti vibrações fortes. Pedi que a tirasse dali. Que a libertasse. Nesse mesmo momento era como se alguém falasse em meus pensamentos. Senti como se alguém me dissesse: " Essa é sua despedida, ela partirá." soltei os pés dela e circulei o leito. Segurei a sua mão e ela apertou várias vezes a minha com firmeza, como quem me dizia: "Força!" Beijei muito a mão dela e o aperto no peito só crescia. Despedi-me e saí de perto antes que ela me visse aos prantos. Ela ainda com a cabeça, acompanhou-me até me perder de vista. Respirei fundo, e desaguei. Segurei -me na pia da entrada, onde todos lavam suas mãos, e a enfermeira me esperando sair para chamar minha outra irmã que já aguardava lá fora, entendeu que eu precisaria de alguns minutos. Fez sinal de positivo com a cabeça e se afastou. Fiquei ali, chorei por alguns segundos. Descontroladamente. Mas buscando o equilíbrio. Precisava sair sem demonstrar isso a Rossana. Segurei-me e fui. Saí, peguei o elevador, entrei no carro e desabei. Chorei até secar as lágrimas contidas. Parei no shoping Rio Mar. Estacionei e ali fiquei longos minutos. Até me acalmar.
Senti plenamente a sensação de ''ADEUS''. e FOI HOJE, terça feira, dia 22 de fevereiro de 2011. Na visita que fiz a ela pela manhã.
Agradeço aos irmãos da espiritualidade por me fazerem sentir a sensação desse momento. Pois, deixa-me mais fortalecida para o momento que virá.
Naná Cahino.
"Ser forte, não é ter a arrogância de não chorar, mas ter a coragem de parar o próprio pranto a fim de consolar as lágrimas de quem mais está sofrendo. Ser forte, é às vezes, sair catando os pedaços do corpo pisado e da alma marcada, e juntá-los todos, com bravura e carinho, para ficar de novo de pé, com o rosto molhado pela chuva que cai e beijado pelo vento suave que passa."
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Espero que você tenha se sentido em casa! Um grande abraço! Volte qualquer dia, para um papo e um vinho bem gelado! beijos no coração!